domingo, 25 de março de 2012

A comunidade da consolação

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Não deixemos de reunirmos como igreja, segundo o costume de alguns, mas procuremos encorajar-nos uns aos outros, ainda mais quando vocês vêem que se aproxima o Dia" (Hebreus 10.25).

Enquanto não chegamos ao clímax da Salvação, consumação da história e chegada da realidade da ressurreição e ainda confinados ao aqui e agora (embora já com a expectativa da eternidade), o misterioso, eloqüente e sábio escritor do livro de Hebreus faz um comentário acerca da vida em comunidade; comunidade de Jesus identificada na história. Ele dá dois conselhos.

O primeiro é negativo, diz algo que não devemos fazer. Não devemos deixar de nos reunir entre irmãos. O texto não faz alusão ao simples fato de não ir ao culto ou reunião principal, pois poderiam existir idosos no grupo de crentes com dificuldades de locomoção e não pudessem estar congregados. Eles poderiam continuar vivendo em comunidade, pois os demais discípulos ou encarregados dos doentes “viriam” até eles. O recado bíblico é direcionado para os cristãos que estavam deixando de participar da vida em comunidade, vivendo uma espiritualidade solitária, sectária e narcísica.

O segundo conselho é afirmativo, algo que devemos fazer. Devemos procurar o encorajamento mútuo. A palavra grega utilizada para encorajamento é a mesma que traduz a obra do Espírito Santo como consolador ou fortalecedor (parakletos, parakaleo). A idéia da exortação é de alguém que está ao lado de outro para consolo, fortalecimento e ânimo. Significa que devemos estar juntos, próximos e interessados uns nos outros.

A igreja é a comunidade terapêutica do Espírito Santo. Nela, cada pessoa precisa de uma terapia diferente, direcionada às suas necessidades. Mas a ordem bíblica é a mesma: precisamos estar juntos. Dizer não ao abandono, ao sectarismo, ao individualismo. Rejeitar aquela força inerte (chamado pecado) que vez ou outra nos torna ausentes da vida em comunidade. Rejeitar aquela voz (a voz do diabo) que insiste em tornar-nos melhor do que os outros e escolher uma comunidade de acordo com nossos ideais, não conforme a realidade.

Devemos dizer sim à proximidade entre os irmãos. Tirar os empecilhos que impedem nossa participação uns na vida dos outros. Lançar fora os preconceitos (até mesmo as divergências teóricas da fé) e identificar-nos pelo amor e serviço (Jo 13.35). Assim, estaremos liberando poder terapêutico do Espírito através dos nossos relacionamentos, a saber, consolo e força para prosseguirmos na caminhada até o grande Dia do Encontro e ressurreição.

terça-feira, 20 de março de 2012

O cativeiro de Satanás

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Satanás (ainda que, sem dúvida, ele nunca o tenha admitido, nem jamais acreditará) é uma ferramenta de Deus. Ao conceder a Satanás tanto poder, Deus se utiliza dele para executar o juízo divino sobre um mundo rebelde. Assim como um homem pode fazer uso de um cão bravo que o odeia, para desviar de sua propriedade os invasores, assim Deus faz uso de Satanás para punir aqueles que têm pecado. Satanás e os demônios estão num estado de aprisionamento, e isso desde a sua queda; eles estão guardados “sob trevas, em algemas eternas, para o juízo do grande dia” (Jd 6; Mt 25.41; Ap 20.10). Todos estão em cadeias. 

Não possuem maior liberdade de ação do que aquela que Deus lhes concede; e, em tudo quanto fazem, como disse Calvino, arrastam consigo as suas cadeias. Satanás gosta de pensar e quer que outros pensem que ele é o verdadeiro governante deste mundo (cf. Lc 4.6). Mas, a verdade é que ele não pode exercer qualquer poder além dos limites colocados pelo Senhor (cf. Jó 1.12; 2.6). Deus o mantém acorrentado; talvez se trate de uma corrente muito longa, mas é uma corrente real.

Quando o Filho de Deus veio a este mundo “para destruir as obras do diabo” (1 Jo 3.8), Satanás empregou todos os meios para frustrá-Lo, mas falhou. Em tudo, Cristo foi vencedor. Não só no início do seu ministério (Mt 4.1 ss.), mas ao longo do mesmo (Lc 4.13; 22.28), Satanás tentou-O para desviá-Lo, de uma maneira ou de outra, da vontade do Pai (cf. Mt 16.22, 23). Jesus, porém, jamais caiu nas armadilhas de Satanás; nem uma vez Ele pecou (Hb 4.15; 1 Pe 2.22).

Ele repeliu todos os ataques do inimigo e prosseguiu triunfantemente para tirar de Satanás uma grande parte do domínio que ele até então havia gozado. Jesus fez isso, primeiro mediante suas curas e exorcismos (Lc 11.17-22; 13.16), e, finalmente, por meio de suas orações (Lc 22.31,32; Jo 17.15) e de sua morte expiatória. Isso garantiu a salvação de todo aquele imenso grupo de pessoas a quem Ele veio redimir (Jo 12.31, 32). Assim, pois, o Calvário foi uma vitória decisiva sobre Satanás e suas hostes (Cl 2.15), o que, em consequência, garantiu o destronamento do diabo sobre inúmeras vidas. A cruz garantiu que um número incalculável de pessoas seria libertado, conforme lemos em Colossenses 1.13-14: “Ele nos libertou do império das trevas e nos transportou para o reino do Filho do seu amor, no qual temos a redenção, a remissão dos pecados”. Isso vem a acontecer por meio da pregação do evangelho, que convida os homens a voltarem-se de Satanás para Deus (At 26.18), e por meio da obra cooperante de Cristo no céu, pela qual Ele move os homens à resposta da fé e ao arrependimento (At 5.31). Satanás resiste o tempo todo e a cada passo do caminho, mas não pode impedir esses acontecimentos. Ele é, sem dúvida, um inimigo derrotado.

Autoria de James I. Packer, retirado do blog - http://diarioreformado.com/page/2/

domingo, 11 de março de 2012

Dicas para domar a língua

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John Wesley (1703-1791) e Charles Simeon (1759-1836) foram ministros da igreja da Inglaterra e líderes do grande reavivamento do século XVIII, conhecido nos Estados Unidos como o primeiro Grande Avivamento. Wesley foi um pregador e evangelista influente, um dos pioneiros do reavivamento, bem conhecido dos dois lados do Atlântico juntamente com seu irmão Charles e seu amigo George Whitefield. Foi ainda fundador da Igreja Metodista. Charles Simeon, no entanto, viveu principalmente em Cambridge, na Inglaterra, e foi líder durante o segundo estágio do reavivamento. Contudo, por causa de seu ministério longo e bastante influente na Igreja Great St. Mary (por mais de cinqüenta anos), também influenciou, grandemente, várias gerações de líderes.

Tanto Wesley como Simeon preocupavam-se profundamente com as implicações práticas da fé, especialmente em como os cristãos deveriam vivê-la na vida real. As passagens seguintes mostram a determinação desses homens em dar um curto-circuito no poder do filho bastardo da inveja - a maledicência. Seus pontos de vista merecem ser ponderados hoje em uma sociedade em que a inveja desenfreada possui centenas de formas diferentes.

Regras para compromissos corporativos:
1.Nós que subscrevemos as regras abaixo concordamos que:
2. Não daremos ouvido nem inquiriremos voluntariamente sobre qualquer maledicência concernente a um de nós.
3. Se escutarmos algo maléfico com respeito a algum de nós, não acreditaremos de imediato.
4. Comunicaremos o que ouvimos o mais breve possível, falando ou escrevendo à pessoa em referência.
5. Não escreveremos nem diremos uma sílaba sequer daquilo que nos foi dito a qualquer pessoa, seja quem for, antes do pleno esclarecimento do assunto.
6. Depois disso, não mencionaremos o que for comentado a qualquer outra pessoa.
7. Não abriremos nenhuma exceção a qualquer uma dessas Regras, a não ser que, em conjunto, acreditemos que somos absolutamente obrigados a fazê-lo. John Wesley, 1752.
 
Como lidar com a maledicência. Quanto mais eu vivo, mais sinto a importância de aderir às regras que formulei para mim mesmo em relação a tais assuntos.
1. Ouvir a menor quantidade possível de coisas prejudiciais aos outros.
2. Não acreditar em nenhuma delas, até que seja absolutamente forçado.
3. Nunca absorver o espírito daquele que fala mal de outros e circula essas notícias.
4. Sempre moderar, no que for possível, a crueldade expressa contra outros.
5. Sempre acreditar que se o outro lado fosse ouvido, o assunto seria relatado de maneira bastante diferente.

Considero o amor uma riqueza, e da mesma maneira que resistiria a um homem que viesse para roubar minha casa, também o faria com o homem que enfraquece meu respeito por qualquer ser humano... acho que as pessoas religiosas estão muito pouco atentas a essas considerações, e que a frase: "Aquele que se aparta do mal se torna vítima", não é verídica apenas em relação ao mundo ateu; mas também no que se refere aos crentes professos, entre os quais há uma triste tendência de escutar maus boatos e acreditar neles sem primeiro dar à pessoa injuriada qualquer oportunidade de explicar seu ponto de vista e defender seu caráter. Quanto mais notável for o caráter da pessoa, mais provável é seu sofrimento nesse sentido, pois a não ser que seja grandemente dominado pela graça, há no coração de todo ser humano um prazer enorme em ouvir qualquer coisa que possa reduzir os outros ao seu nível ou rebaixá-lo diante da estima do mundo. Quanto mais os outros são desvalorizados, mais nos sentimos elevados.

Nessas circunstâncias encontro consolo nas seguintes reflexões:
1. Meu inimigo, qualquer que seja o mal que me tenha feito, não me reduzirá a um nível tão baixo quanto o faria se soubesse tudo o que Deus sabe a meu respeito.
2. Ao fazer um balanço entre o débito e o crédito percebo que, mesmo se fosse roubado em um centavo, há muitos valores creditados em minha conta que não sou digno de receber.
3. Se cada homem tem o seu grande dia, Deus também terá o seu. Charles Simeon, de Hugh Evan Hopkins, Charles Simeon of Cambridge (Holder and Stoughton), pp. 134-135.

Texto e citações extraídos de "Os 7 pecados capitais" de Os Guiness, publicado por Shedd Publicações, p.83-85.